Bom... se a definição do que vem a ser neuroeducação ainda não é muito clara, existem algumas experiências.
Vou falar um pouco de uma pessoal, e depois trarei outras.
Quando comecei no doutorado, a ideia era trabalhar com síndrome de Williams e como me interessava pelo aspecto educacional, comecei por aí. Depois, me parece que como a maioria dos doutorados, passei por mais uns 15 projetos e terminei noutra área.
Mas, desde então, segui com outras duas profissionais (uma fono e outra terapeuta ocupacional) ligada à síndrome de Williams. Embora eu possa escrever sobre esta síndrome, coisa que certamente farei, o google também pode ser usado pra matar a curiosidade (e ele é bom nisso) assim como acessando o site da Associação Brasileira da Síndrome de Williams.
Em vez de expor um Williams, preferi expor um dos traços que mais gosto neles: são suuuuper afetivos, pra mim, é a síndrome do agarradinho. E os estudos de neuroimagem já apontam vários motivos pra isso. ;)
Pois bem, das demandas que vi os pais de Williams trazerem (há várias, principalmente com as carências brasileiras), uma das mais citadas era o fracasso escolar, ligado à falta de inclusão verdadeira, ao desconhecimento dos professores, etc.
Depois de conversarmos com a presidente da associação, bolamos um curso que envolvesse diferentes áreas de conhecimento das neurociências. E que além disso, se traduzisse de alguma maneira numa intervenção junto ao professor. A experiência continua em andamento e temos certeza de que pode ser lapidada de inúmeras formas. Mas, até aqui foi muito boa, tanto para nós que ministramos os cursos e aprendemos muito, como para os professores que passaram por eles, o que medimos por meio da avaliação do próprio curso e do feedback externo dos professores. Seguramente há outras formas de se avaliar, inclusive junto aos pais e aos alunos Williams, mas, isso provavelmente ficará pra outro momento.
Por hora, o que posso dizer é que o curso funcionou de maneira simples, levamos estudos que envolvam cérebro de indivíduos Williams relacionados às deficiências e às habilidades que possuem. Levamos, além disso, alguns dados da biologia da síndrome, da fisiologia, etc. Ou seja, fomos além das Neurociências, respeitando a característica multidisciplinar necessária para explicar uma síndrome e a própria característica interdisciplinar da educação. Junto aos professores, propusemos análise de situações que simulam o que passa dentro do cérebro de um Williams.
Atingimos dois pontos cruciais para o curso: 1. a sensibilização: estar na pele e reconhecer no aluno os problemas que esta síndrome traz consigo; 2. instrumentalização do professor que lhe possibilite autonomia na busca de mais informações. Acreditamos que o passo 1 seja essencial para a inclusão verdadeira e que o passo 2 é a base da educação, ensinar a pescar, conceder autonomia e base para seguir com as próprias pernas.
Como professora, o que principalmente me ocorreu é que por meio do conhecimento da neurobiologia da síndrome, o professor possa elaborar melhor suas atividades de ensino e de avaliação, reconhecendo limites e competências, reforçando habilidades. Para além disso, em se compreendendo melhor a síndrome, o professor pode adotar uma estratégia de trabalho que otimize sua rotina, reduzindo sua carga sabidamente pesada.
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