segunda-feira, 19 de outubro de 2015

O cérebro adolescente



Algumas palestras das TED talk são bem interessantes, achei esta aqui com a Sarah-Jayne Blakemore que está excepcionalmente didática e gostaria de compartilhar (não sei se existe com legendas em português). Ela é um nome muito conhecido na área de estudo do cérebro adolescente. Na palestra, alguns pontos são levantados:



Animação da Wikipedia mostrando o córtex-préfrontal esquerdo.

A maturação física do córtex pré-frontal, a qual parece sofrer um processo de poda neuronal anterior nas meninas em relação aos meninos, muito provavelmente por conta da entrada anterior das meninas na puberdade. O que significa esta poda (da qual provavelmente virei a falar com calma noutro post)? Significa, grosso modo, que conexões estão sendo refinadas, muitas perdidas/podadas e outras intensificadas. O pré-frontal é uma área muito importante na cognição humana e extremamente desenvolvida no cérebro humano. É uma das últimas áreas a maturar nos nossos cérebros, e ao que tudo indica esse processo transcende a adolescência. A área parece ser responsável por muita coisa (eu adoro ler sobre ela), entre elas: tomada de decisão e planejamento. Pois bem, não é uma área totalmente madura no cérebro adolescente e se lembrarmos o que é adolescência... fica fácil de entender, o adolescente não prima pelo planejamento e tomada de decisão sempre mais madura, né? 

Depois ela fala do refinamento de ajuste social pelo qual o cérebro passa e como provavelmente ele ocorre, para o que usa como fonte os estudos de fMRI (ressonância magnética funcional). Ou seja, sai do nível da estrutura e passa para a funcionalidade. Crianças funcionam de maneira diferente de adultos com relação a regras considerando o outro. Ou seja, quando há uma regra clara, é similar ser um adolescente (meio da adolescência) e um adulto, parece que o conceito de regra já está estabelecido. No entanto, quando não há uma regra clara, adultos se saem melhor na tarefa. O especial da tarefa neste caso é: levar em consideração a perspectiva do outro para guiar a sua decisão ou comportamento numa determinada situação.

Por último, ela levanta a questão que bem conhecemos sobre a predileção dos adolescentes por se colocarem em situação de risco. Predileção que provavelmente envolve uma área bastante primitiva dos nossos cérebros, o sistema límbico. Este sistema, que é conhecido por estar envolvido com a regulação da emoção e da recompensa, parece estar hipersensível ao fenômeno de recompensa ligado ao risco na adolescência. Mas, ao mesmo tempo, o pré-frontal que pode funcionar como nosso freio, regulando melhor o sistema límbico, ainda está imaturo. 

Tendo isso, a Sarah lembra ser uma pena que numa fase tão criativa e interessante da vida, frequentemente o que vemos é o abandono escolar. Às vezes por motivos alheios à vontade do estudante. Eu penso não apenas nos motivos alheios, mas, naqueles que envolvem a decisão do estudante. Quantas vezes repetimos que parece haver uma apatia generalizada na adolescência? 

Eu sempre trabalhei com educação de adolescentes (e adoro) e embora seja um assunto muito mais complexo do que a gota que trago para este oceano, uma coisa me vem à mente no momento, a escola não oferece desafio. Parece que este cérebro altamente preparado para o desafio e para a recompensa não tem algo à sua altura. Desafio que entendo dentro de um contexto contemporâneo da sociedade, não nos moldes de 50 anos atrás. Em resumo, por este ponto de vista do adolescente a escola é um saco e, talvez, sempre tenha sido, sei lá.

Nenhum comentário:

Postar um comentário